O mundo do rap americano volta a ir às cortes. Agora, aqui não são os estúdios, mas as salas judiciais. O rapper J. Cole está a ser processado por Cam’ron, um dos ícones históricos do hip-hop de Nova Iorque, por conta de uma colaboração prometida que nunca foi realizada.
Segundo informações veiculadas pelo site da TMZ, que diz ter tido acesso aos documentos legais do processo, Cam’ron acusa J. Cole de não ter honrado um acordo verbal segundo o qual ambos concordaram durante o processo de criação da música “Ready ’24”, em que Cam’ron teria escrito e gravado um verso sob a promessa de que J. Cole retribuiria com uma colaboração futura.
No entanto, essa promessa nunca se concretizou. O veterano de Harlem diz que J. Cole tem se mostrado indisponível repetidamente, apresenta desculpas sobre compromissos e agendas lotadas sempre que o assunto é mencionado.
Cam’ron falou que, além da questão ética e criativa, existem interesses financeiros em jogo. Ele afirma que seu contributo para “Ready ’24” foi essencial no impacto da música, mas até agora não recebeu tanto o reconhecimento como coautor, como o pagamento a que entende ter direito. Assim, decidiu entrar na justiça enviando o que entende ser legítimo.
No processo pegando na justiça, Cam’ron pede compensação de valores e créditos como coautor, alega que o verso que escreveu e entregou ajudou a tornar “J. Cole” valioso, sem ter havido qualquer tipo de retorno, na forma de pagamento ou contrato.
Esse tipo de situação é comum na indústria fonográfica, especialmente no hip-hop, onde as colaborações verbais e os entendimentos informais são bastante comuns. Entretanto, quando a confiança entre artistas se quebra, o resultado frequentemente é uma longa batalha judicial.
O desdobramento ocorre em um momento curioso para o rap norte-americano. O termo “Big 3” que refere-se a Drake, Kendrick Lamar e J. Cole, tem sido utilizado repetidamente para designar os três artistas principais do momento. Contudo, 2024 não tem sido um bom ano para o trio. Depois de Drake confrontando a Universal Music Group (UMG) em uma ação judicial, agora é a vez de J. Cole enfrentar esta polêmica no escrutínio público e jurídico.
As respostas na comunidade do hip-hop estão divididas entre as pessoas que acham que Cam’ron está correto e aquelas que consideram uma confusão entre dois artistas de gerações diferentes. De qualquer forma, a situação é uma reminiscência de um antigo ditado da cultura hip-hop: “Os negócios são tão importantes quanto os versos.”
No rap, as palavras possuem significado. Quando um artista se compromete a fazer uma colaboração, isso precisa ir além do trabalho estético e deve ser tratado como um exemplo de respeito e lealdade. Cam’ron, por exemplo, fica muito mais sensível e até mesmo exagerado neste ponto, discutir o que considera ser uma questão de honra, a palavra dada deve ser mantida em especial entre artistas que fazem parte da elite do estilo.
Até o presente momento, J. Cole não declarou publicamente sobre o processo. Os fãs aguardam uma declaração dele, ao mesmo tempo que a imprensa especializada analisa as possíveis consequências legais e reputação da briga.
Independentemente de qual seja o resultado, a contenda entre Cam’ron e J. Cole revela ainda que a luta entre amizade, negócios e arte continua a ser um assunto delicado para o hip-hop, um jogo onde cada verso, contrato e promessa importa.
Leave a comment